terça-feira, 25 de abril de 2017

O dia em que eu quase fui estuprada. - Carol

Hi, It's Carol
Carol Dias
    Se a história é minha? Sim. Eu me suicidei? Não. Mas eu sou uma Hannah da vida real. Depois de ver a série eu achei que precisava falar sobre isso pro mundo, me senti na obrigação de falar e não guardar mais isso como um segredo, como se eu estivesse errada, como se fosse um crime ou algo assim. Não sei se alguém da família vai ler isso, mas, eu vou tentar. Não foi algo grave, na visão de muitos. Mas pra mim, foi.
    Então, vamos lá... Eu tinha 12 anos, quase 13 quando isso aconteceu. Sinto muito te dizer, mas eu não era mais uma criança inocente, você queria que eu fosse, mas eu não era. Fui para casa de uma prima no interior. Como sempre eu ficava até mais tarde assistindo TV, já que todos iam dormir cedo e eu sempre fui acostumada a dormir tarde. Fiquei na sala, assistindo filme. Lembro-me bem, pro seu azar. Eu estava coberta, e de shorts. Então um primo meu entrou na casa, já era tarde, por volta das 23hr. Tinha acabado de chegar, ele tinha por volta de 20 anos. E então deitou no sofá junto comigo e se cobriu, eu não achei nada demais no momento. Depois ele começou a acariciar minhas pernas, foi ai que eu comecei a desconfiar e paralisei. Quando as mãos dele subiram até meu short e tentou tirá-lo, eu quase arranquei a mão dele. Eu levantei e sai da sala o mais rápido que eu pude, fui para o quarto e me deitei com minha prima, irmã dele. Eu deitei na ponta da cama, ele dormiria no colchão no chão, próximo a cama. Eu estava em choque, tremendo, eu sabia o que ele estava tentando como eu disse... Eu não era mais inocente. Quando olhei para baixo, ele estava tentando enfiar a mão embaixo do cobertor em minha direção, então eu olhei pra ele e disse pra ele parar, que se ele tentasse algo eu gritaria. Eu devia ter gritado da primeira vez, eu fiquei assustada. Depois eu chamei minha prima e pedi para que ela trocasse de lugar comigo, ela trocou e eu? Eu fiquei acordada a noite inteira vigiando meu corpo, queria que todos ficassem o mais longe de mim possível. 
    No dia seguinte quando amanheceu, acordei cedo junto com minhas primas, eu resolvi ir pra casa de outra tia minha, eu não queria ficar ali nem mais um dia, eu estava apavorada. Vocês devem estar se perguntando por que eu não liguei para meus pais, então lhes digo, na época lá não tinha sinal de telefone, mesmo que eu quisesse, não tinha como eu ligar. Chegando na casa da minha outra tia, eu já estava paranoica, chegou outro primo meu e eu, me enrolei embaixo das cobertas e comecei a tremer de uma forma que parecia que eu estava com frio, mas não estava, Eu estava escondendo meu corpo. Comecei dali em diante a achar que todos os homens olhavam pra mim com outros olhos, comecei a esconder meu corpo de todas as maneiras possíveis, e meu primo? Depois daquilo ele me via e agia normalmente, como se nada tivesse acontecido. Não tinha como ninguém saber, eu não contei isso pra ninguém, mas agora resolvi falar. Eu quero tentar proteger outras meninas da família, se ele tentou comigo pode ter tentado com outras e pode ainda estar tentando. Não vou citar seu nome, pois não tenho provas do que aconteceu e aconteceu a muito tempo. Pra muitos essa história vai ser algo idiota, mas é algo que a gente nunca esquece. Eu não pensei em suicídio depois disso, eu não sou uma Hannah por isso, eu sou uma Hannah por ter sofrido assédio, por ter ficado calada achando que ninguém me ouviria ou acreditaria em mim por eu ser uma criança. Na época que isso aconteceu, era difícil falar de certos assuntos com os adultos, e falar sobre isso é ainda mais difícil. Nunca sabemos como devemos nos sentir, no meu caso eu senti medo acima de tudo.

Fico me perguntando, e se eu tivesse ficado lá mais dias? E se eu fosse uma criança inocente? Alerte seus filhos, principalmente suas filhas. Não desconfie só de desconhecidos, às vezes o perigo está mais próximo do que vocês imaginam.