quinta-feira, 7 de março de 2019

Realidade dolorosa de ser mulher

Se você não dá credibilidade ao assunto, não leia!

                           Assim que acabamos de vir ao mundo, logo temos a obrigação de furar as orelhas, por que menina tem orelha furada. Nossos pais já ouvem que “vamos dar trabalho”, porque menina da trabalho. Vai namorar, vai encher de gaviões, pode começar a namorar cedo e engravidar inclusive. Conforme vamos crescendo, temos nossa vida muito restrita, não podemos conversar com muitos meninos porque isso pode parecer estranho e até mesmo perigoso. Sempre vestidas de rosa, lacinho, bastante “fru fru” e bastante coisa que aponte que somos uma menina. Conforme os anos vão passando, chegamos à idade que queremos aprender coisas novas, assim como os meninos. A tão conhecida puberdade, aquela onde os meninos começam a ter pelos, onde começam a conhecer a sexualidade e são estimulados a isso. A tão conhecida punheta é famosa no mundo masculino e isso para muitas mulheres é ensinado como normal. Todo menino bate uma de vez em quando, isso acontece muito na puberdade. Porem, para nós meninas não é bem assim. Desde o inicio da puberdade, quando começamos a mostrar sinais que estamos virando “mocinha”, o incentivo é para que cada vez mais nos contenhamos. Não devemos nos dar ao luxo nem de se quer comentar sobre sexo, isso é exclusividade masculina. Se cometermos esse erro, logo somos taxadas de “pra frente”. Mesmo também estar entrando na fase onde tudo é muito novo, onde começamos a ter pelos novos, onde nosso corpo muda de formas assustadoras aos nossos olhares. A fase onde podemos iniciar um distúrbio de autoimagem, por conta das mudanças não esperadas e não avisadas. Mesmo assim, somos ensinadas a nos calar e não falar sobre essas mudanças e ignorar todas elas, como se fosse possível. O seios começam a dar as caras, algumas meninas ganham muito peso, outras perdem, o quadril se alarga, a menarca aparece, conhecemos absorvente, o inchaço, a tpm (tensão pré menstrual), as dores de cabeça, a cólica, a fadiga. Quando a primeira menstruação aparece somos ensinadas que devemos ter vergonha disso, devemos ter vergonha de algo que acontece com toda e qualquer mulher desde que o mundo é mundo. Devemos ter vergonha de falar sobre menstruação, de comprar absorvente, e quando vazar aquele pouquinho de sangue em público devemos dar um jeito de esconder, as pessoas não podem ver que menstruamos. Elas sabem que isso acontece, mas elas não podem entrar em contato com a realidade do sangue. Isso tudo vira motivo para virarmos piada, na escola, nas ruas, na rede social. Adolescentes podem ser cruéis e é exatamente nessa fase que a garota mais sofre. Logo depois vem a maior descoberta da vida de uma mulher, o clitóris. Ele tem vida, ele tá ali pra alguma coisa, coisa que não nos foi dito. Aquela sensação diferente, estranha. Somos ensinadas a ignorar nossa sexualidade, nosso prazer. Os homens são ensinados a se estimular o máximo que puderem. Nossa virgindade é santificada e ao mesmo tempo menosprezada. Não podemos nos entregar pra qualquer um, tem que ser depois de casada, depois de muito tempo de relacionamento, depois de confiar muito no parceiro. A responsabilidade de usar camisinha e proteger uma eventual gravidez é nossa, porque os homens são ensinados sobre o prazer e o sexo, mas não são ensinados a se protegerem. As mulheres são ensinadas a se fingirem de estatuas e mesmo assim depois a responsabilidade da proteção é completamente delas. Sexo no primeiro encontro? De maneira alguma. Sexo antes do casamento, sem um relacionamento firme? Isso é só pra mulher oferecida, mulher rodada, pra vagabunda... Disseram eles. Mas o homem pode e deve fazer sexo na primeira oportunidade (Ainda bem que existem mulheres “vagabundas”, pois se não fariam sexo com eles mesmos).  
                            Somos ensinadas a nos odiar, a ver a outra mulher sempre como oponente e inimiga. Devemos sempre estar mais bem vestida que a colega, mais bonita e mais bem cuidada. Se ela tiver com o ex, ou for a ex do atual, devemos odiá-la.  Como se não houvesse espaço no mundo para mais de uma mulher. Homem é um troféu, um presente dos deuses, uma benção que temos que agradar, venerar e respeitar pelo simples fato de serem homens e carregar um órgão diferente dos nossos. Na adolescência ainda somos perseguidas por padrões de beleza. Desenvolvemos distúrbios alimentares, de autoimagem, depressão, ansiedades. Sempre buscando a cintura perfeita, o cabelo perfeito, a barriga perfeita. Nossas roupas são controladas a vida inteira. Se usarmos roupas muito curtas logo já somos taxadas de putas e piranhas. Tanta coisa perfeita e eu nem sei o que exatamente é essa perfeição que algumas mulheres tanto procuraram. Garotas engravidam na adolescência, são julgadas, maltratadas, humilhadas. As pessoas nem se quer verificam se tiveram a assistência necessária. Porque como havia dito, somos ensinadas a ignorar nossa sexualidade e responsáveis sempre por evitar uma gravidez indesejada. Temos que tomar o anticoncepcional, colocar DIU, anel vaginal e ir atrás de métodos contraceptivos femininos que nem se quer são mencionados para nós. Não nos contam sobre a camisinha feminina, nos contam sobre a camisinha masculina. Temos que lembra-los de colocar a camisinha. Muitas vezes se recusam, dizem que incomoda e que vai ser só dessa vez. Tiram a responsabilidade de si e passam para a mulher. Quando aquilo resulta em uma gravidez, a culpa é dela que aceitou que ele não colocasse a camisinha. Até quando a gravidez é planejada a mulher ainda passa por coisas horríveis em uma sala de parto. Partos forçados, cesárias negadas, cortes desnecessários para adiantar a gestação e pontos dados sem anestesia. (Muitas mulheres não sabem que cortar a vagina para retirar o bebê é covarde e é considerada uma tortura). Depois de adultas somos sujeitas a passar por relacionamentos conturbados, abusivos e muitas vezes torturantes. Não sendo suficiente, sujeitas a estupros, na faculdade, no trabalho, dentro de casa (pelo pai, tio, padrasto, namorado, marido), na rua, entre outros milhares de lugares. Somos mortas, espancadas, amarradas. Temos que ouvir que foi por que merecemos, por que quisemos, por que procuramos. Somos presas, contidas, obrigadas a seguir regras impostas sabe-se lá por quem. Sofremos muitas vezes sozinhas, caladas. Muitas de nós convivem tanto com a crueldade do machismo que ele acaba se impregnando e pra mim não existe nada mais doloroso que uma mulher machista. Essa mulher foi tanto vitima do machismo quanto eu, você que está lendo. Só que inconscientemente ela se entregou, ela desistiu. Muitas não têm noção do que diz, do que faz. Acha normal porque realmente lhes foi ensinado que aquilo é normal. 
                          Não temos liberdade de sair na rua sozinhas pois cada passo está sujeito a um assovio, uma buzinada, um grito, uma olhada, uma mão, até mesmo uma ejaculação em nosso pescoço. Não se tivermos acompanhadas de um homem. Homens sempre respeitam outros homens. De curtir nossas vidas, de sermos independentes e parece que nunca seremos tratadas como iguais. Temos que sofrer abusos e nos calar, pois temos medo das pessoas duvidarem da nossa palavra e do nosso sofrimento não valer de nada.

Esse texto não inclui de forma generalizada as vida de todas as mulheres. Escrevo a partir da minha experiência e de coisas que vi. Tenho consciência que não é toda mulher que acontece todas as coisas, mas tenho certeza que com uma delas, você mulher se identificou.