quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Tatiana Spitzer / Feminicídio

                   Já escrevi sobre relacionamento abusivo duas vezes, uma eu apenas escrevo sobre o assunto e em outra conto o relacionamento abusivo que eu vivi (clique para ler) e o caso de Tatiana só me fez pensar em quantas mulheres passa constantemente por tudo aquilo e não falamos sobre. Sim, as coisas mudaram muito, as mulheres podem votar, podem estudar, trabalhar, escolher com quem vai casar, usar a roupa que quiser, dirigir, ser independente, usar batom vermelho, sair com quantos caras quiser (na maioria das vezes, mesmo que seja taxada de diversas coisas ou quando tem algum opressor pra impedir, mesmo nos dias atuais). Mas se você for analisar de perto, as coisas não mudaram tanto assim quanto parecem. Ainda não temos a segurança de sair na rua sozinhas, ainda não temos na maioria das vezes, formas de nos defender. Ainda temos o físico a maior parte das vezes mais fraco, ainda somos quase sempre fáceis de ser controladas como uma marionete. Eu assisti ao vídeo de Tatiana, em que seu marido a agride na rua, no estacionamento e no elevador, até a hora em que tirou dela o que ela mais tinha de precioso, sua vida. Ela o escolheu, ela confiou nele, a família dela confiou a segurança dela nele, e ele usou isso da forma mais dissimulada possível. Pois é isso que ele é, doente e dissimulado. Não tem justificativa nesse universo que explique o que ele fez com Tatiana naquelas filmagens, e não foi daquele jeito somente naquela noite. De acordo com as investigações e testemunhas, o casamento dos dois era basicamente um inferno. Ele era grosso e desequilibrado. Ela falou disso em conversas com conhecidos e amigos que por sua vez, disseram pra ela que ele era um bom homem, que ele mudaria e que não valia a pena acabar um casamento por conta disso, que era uma fase e que ia passar. Passou, com um corpo sem vida. Ia acabar dessa forma e a pessoa que sofreu as consequências foi Tatiana. Ela pediu por socorro, vizinhos ouviram e ninguém fez nada. Seus parentes e amigos sabiam em que tipo de casamento ela vivia e também não fizeram nada a respeito. Talvez tenham tentado, mas precisavam tentar mais. Não estou tirando a culpa do assassino e colocando em pessoas que deviam tê-la ajudado, estou apenas tentando alertar as pessoas. Tentando mostrar que podemos fazer alguma coisa e que precisamos fazer. Talvez alguma mulher próxima a você ou a mim sofra em um relacionamento abusivo e nem sonhamos. Prestar atenção nas pessoas de outras formas, começar a analisar coisas talvez mais prestativas; Em vez de observar outra mulher com olhos de raiva e ficar tentando encontrar um defeito, observe com outros olhos e tente encontrar se tem algo de errado. Algo que não deveria estar ali e não deveria acontecer daquela forma. Eu sei que às vezes é difícil e que muitos vivem de aparência. Que fingem ser um casal perfeito e enganam, mas precisamos ao menos tentar fazer alguma coisa pra que esses absurdos comecem a acabar. 
                  Não é só a Tatiana, ontem (07) foi o dia em que a Lei Maria da Penha completou 12 anos. Se você ligou a TV em um jornal ou entrou em pelo menos um site de noticias, eu tenho certeza que você viu outras noticias, de outras mulheres que passaram pela mesma coisa que a Tatiana. Ela pediu ajuda, várias e várias vezes. Foi 20 minutos tentando fugir dos braços de seu próprio marido, também seu agressor que, no fim, colocou um fim no seu sofrimento tirando sua vida. Eu sei que é um assunto difícil de encarar e que machuca, o machismo machuca. Falar sobre isso é difícil, mas é algo necessário. Para que acabe de uma vez por todas. Antes da Lei Maria da Penha o homem que agredisse uma mulher era considerado covarde, depois da lei ele é um criminoso. Não há duvidas de que precisamos intervir, a frase “Em briga de marido e mulher não se mete a colher” tem que ficar no passado, se houver agressão tem que se meter sim, tem que chamar a policia, tem que defender a vitima. 
           Sei que o nosso país ainda é muito precário em relação a defesa de mulheres que são agredidas. Eu sei que ainda tem muita coisa a ser reparada e que homens agressores não pagam da devida forma nesse país. Mas precisamos mudar as coisas começando por nós mesmos e isso não serve somente por esse assunto. A cada mulher que sofre com isso, é um pedaço de mim que vai embora. É uma luta que vai ser minha eternamente, pelo simples fato de eu ser mulher. Se você está em um relacionamento onde ele te prende, te controla ou pelo menos tenta, caia fora. Isso não é um relacionamento, é uma prisão. Não é justificável e não vai mudar. A promessa de mudança é vazia! A única promessa que você precisa acreditar é que EU TE PROMETO QUE VOCÊ VAI CONSEGUIR SEM ELE.